sexta-feira, junho 04, 2004

Proximidade na Guarda

A heterogeneidade do universo de recrutamento da Guarda, verdadeiro caldo de culturas, classes, cores, credos, extractos sociais e económicos, juntamente com o facto de nela estarem representados quase todos os patamares etários adultos, dá-lhe o carácter de “polícia próxima” que a congénere PSP perdeu e todos parecem querer encontrar. De facto, mesmo nas zonas de grande densidade populacional (quiçá as maiores), só quem não quer ver proximidade é que não a vislumbra.

O conceito de proximidade que tem vindo a perpassar pelas mentes pseudo-esclarecidas de uns poucos intelectuais dos saudosos 60, é absolutamente inadequado. Não exprime nenhum conceito operacionalizável, que não seja o do facilitismo populista de quem educa os seus filhos como "confidentes e amigos", privando-os de referências absolutas e condenando-os a uma vida de incertezas, indecisões, medos e fraquezas.

De qualquer forma, é necessário olhar crítica e desapaixonadamente para as motivações do Estado Português, que manteve ao seu serviço duas congéneres tão díspares nas culturas institucionais mas tão idênticas nas funcionalidades diárias. Na nossa opinião, isso sucedeu porque o legislador reconhece a utilidade da existência de dois níveis de intervenção, um a que vamos chamar “PRÓXIMO” (algo cinicamente) e um outro a que poderemos chamar “MUSCULADO”. Um de características marcadamente municipalistas e um outro de características nacionais. Resumindo, uma força para levar as coisas a bem e uma outra para intervir de forma um nadinha mais “persuasiva”. Não vamos desenvolver este tema porque já se viu onde queremos chegar: A Guarda é e sempre foi uma força de regime, herdeira das tradições da Guarda Pretoriana, da Guarda Imperial Bizantina (os excubitores portadores do escudo do sagrado labrarum) e de todas as suas seguidoras (a Guarda Imperial de Napoleão não foi excepção, qualquer que tenha sido o nome que lhe puseram).

O grande erro foi cometido quando se começou a confundir outras duas especializações sectoriais, os militares e os Polícias. É que o facto de ambos serem "homens de armas" não quer dizer nada...

Se pensarmos a sério nas diferenças, encontramos sobretudo três:

Por um lado, os "milites" pensam em termos de inimigo-amigo e os pacificadores da polis nem sequer sabem se têm adversário...

Por outro, os militares obedecem primeiro ao seu superior hierárquico e só depois aos ditames da lei enquanto os polícias fazem exactamente o contrário. É por isso que estes últimos nunca protagonizam revoluções...

Por último, os militares agem em grupo, organizados em valências orgânicas bem definidas, obedecendo cada um a um único indivíduo, enquanto cada polícia dá contas a um enorme conjunto de pessoas, todas com distintos graus de poder...

Quando tento incluir a Guarda e os Guardas num destes grupos, deparo com dificuldades várias, mas, invariavelmente, acabo por escolher o segundo.

Já agora e a título de comentário, faria muito mais sentido que nas armas da Guarda e das suas especialidades funcionais se desse destaque ao escudo (segurança) em vez da espada (que tem carácter militar e pendor agressivo).

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Então agora o menino também quer uma guarda civil?Claro que a guarda tem a componente militar e uma componente de polícia para a tal intervenção mais musculada.Se quizer é uma policia militar. Deixemo-nos de fantasmas do passado em que se educava o povo...

3 de fevereiro de 2007 às 06:36  

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